quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ameaça ao cacau, mais uma

Por: Izabel Delmondes
Estamos, quase todos os produtores de cacau, preocupados em resolver as questões relacionadas às dívidas contraídas com agentes financeiros federais para combater a vassoura-de-bruxa, sem muito sucesso. A luta é justa e se mais espertos fôssemos estaríamos lutando para sermos enquadrados como vítimas de calamidade pública e de terrorismo biológico ou político.

Por causa dessa luta, mais que justa, nos esquecemos dos demais acontecimentos. Esse tal Porto Sul Bahia, no entender de todos os especialistas em meio ambiente que conheço, é outra calamidade que vai causar sérios danos à região. Mas, parece-me que estamos cegos e insensíveis a essa realidade e só vemos à nossa frente o problema da dívida.

A empresa Bahia Mineração, BAMIN, será a principal beneficiária desse empreendimento, uma ferrovia construída com dinheiro público, mas que será repassada à iniciativa privada através de leilão para subconcessão, por um período de 30 anos. Essa verba bem que poderia ser dirigida para a recuperação da lavoura cacaueira que, com certeza, não causa os previsíveis danos ambientais, gera emprego e renda por séculos, desde que o produtor saiba cuidar da sua propriedade e não sejamos afetados por outras pragas.

A destruição ambiental de uma parte preciosa da nossa região vai nos trazer sérios prejuízos. Os míopes vão dizer que estou enganada, pois a ferrovia e o porto vão trazer progresso e desenvolvimento para a nossa combalida região. Pergunto eu, que progresso pode trazer ao Brasil a venda das suas riquezas minerais em estado bruto, para a China, por um preço irrisório, por conta da construção de uma linha férrea que só vai servir para transportar minério de ferro em pó e urânio? O quão útil será para a região do cacau a construção de um retroporto, um porto off shore e um pátio de armazenamento de minério? Alguém aqui faz algum ideia da dispersão atmosférica das partículas em suspensão oriundas do pó de minério e da área por ela atingida?

Alguém aqui faz alguma ideia do tipo de ocupação que geralmente acontece no entorno desses empreendimentos? Quem garante que junto com a ferrovia não venham a violência, o narcotráfico, a prostituição, assaltos e assassinatos? A Ferrovia Carajás, que liga Parauapebas no Pará, até o Porto de Itaqui, em São Luiz, no Maranhão, é um belo exemplo de que as populações que vivem no entorno desses empreendimentos não são beneficiados por eles, muito pelo contrário.

Mas estamos todos calados vendo a bela região de Itacaré, onde se localizam algumas APAs importantes para a região, ser medida para ser desapropriada e destruída Pela sua beleza e pela sua biodiversidade esse local tem muito maior vocação para empreendimentos turísticos que para um poluído porto privado de minérios, mas construído, na sua maior parte com dinheiro público que, repetindo, poderia ser muito melhor empregado se utilizado na recuperação do cacau na região.